quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Cotidiano - Os postes humanos

Renata Pacheco - UniverCidade - Jornalismo

Faça chuva ou faça sol eles estão lá. Só no bairro de Ipanema são dezenas deles espalhados pelas ruas ou andando de bicicleta pela orla. Às vésperas das eleições para prefeito e vereador na cidade do Rio de Janeiro, os postes humanos – pessoas que seguram as propagandas dos candidatos – tentam ganhar um trocado para ajudar nas despesas de casa. Essa modalidade de trabalho chegou na cidade nas eleições de 2006.

Naquele ano, foi feita uma mini-reforma eleitoral (Lei nº 11.300/2006) com o objetivo de minimizar a poluição visual. As medidas adotadas foram a proibição dos outdoors e a fixação de placas em postes de iluminação pública. O “poste humano” foi uma alternativa encontrada para fazer a mesma publicidade que era veiculada em outdoors e postes públicos.

O desemprego é o principal motivo para as pessoas procurarem os comitês eleitorais. Na esquina das ruas Visconde de Pirajá e Aníbal de Mendonça, Wilson relata que ganha pouco, mas já é uma ajuda. “Fico aqui das 9h às 18h e ganho, por dia, 20 reais mais o almoço. Tem gente que ganha 15 reais e nem um lanche eles dão. Sei que é pouco, mas estou desempregado há muito tempo, então não tive outra opção”.

Do outro lado da rua, Hilda, de 58 anos, ajuda os filhos como pode. “Ficar sentada aqui por muito tempo, além de ser cansativo, meus pés incham. É um trabalho que tem que ter paciência. Só fico aqui porque preciso muito”. Já na orla, F., que não quis se identificar, diz que tem sorte em ficar com a bicicleta. “Vejo companheiros de placa dormindo ou fazendo palavras cruzadas. Com a bicicleta pelo menos me exercito”, brinca. A advogada e moradora de Ipanema, Mônica Soares, critica a atitude dos políticos: “Como um político pode prometer dar dignidade à população e explorar as pessoas desse jeito? É totalmente contraditório!”.

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